6 de jan. de 2014

SORRISOS ÓRFÃOS


Preciso trocar de pele, como as cobras, afinal a existência é um rastejar pela vida
Vou arrancar cada pedaço de tecido meu que você profanou, me desinfetar ate eliminar o perfume comprometedor, silenciar o testemunho dos meus olhos que nos viram juntos, enlouquecer minhas lembranças até elas crerem que são sonhos, açoitar meus pensamentos até eles desistirem da liberdade de ir ate você
Sangro até hoje o aborto dos sorrisos que não nasceram na sua presença, fetos sem pai, gerados pela solidão de minha felicidade
Quero a nudez
Encontrei o conforto de viver momentos despidos de lembranças, mas jogarei fora todas as caixas, para o caso de um imprevisto pelo caminho, lembranças nos tornam vagarosos, e eu quero chegar logo ao fim, um fim que não é a morte  
Ainda escrevo sobre o amor por costume, como quem faz o sinal da cruz quando passa em frente a igreja
Ainda escrevo sobre você para não desperdiçar a inspiração , como quem aproveita o gelo só parcialmente derretido e enche novamente o copo
Ainda lhe bebo, em doses menores, com menor frequência, mas é o mesmo gosto salgado 

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