25 de mar. de 2011

BOLACHAS

Sou criança curiosa, espiei o amanhã e lá estava o hoje exausto e velho, perdi a curiosidade
Saudade do tempo em que eu tinha medo de dormir sozinha, de quando eu adormecia as pressas para alcançar mais rápido o amanhã e duelava com o sono para o hoje viver mais um pouco 
Saudade do tempo em que o dia me alegrava apenas pelo fato de ser sexta-feira, de quando eu ainda sentia vontade de tomar leite quente a noite e gostava de mergulhar minhas bolachas de maizena em um copo de água para come-las derretidas
Saudade do sorvete de abacate que minha mãe fazia na forma de gelo de alumínio, do frio das 7:00 da manhã indo a pé para a escola e do meu óculos fundo de garrafa
Não sou criança e nem faz tanto tempo assim
Os filhos nos libertam da responsabilidade de alcançar a felicidade. Que nossos filhos sejam felizes, é só o que nos importa, perseguir a felicidade é problema deles agora, podemos ficar aqui confortavelmente acomodados sendo alimentados como por uma sonda pelos sorrisos deles
Não sou criança, crianças sonham mas eu esqueci

Um comentário:

  1. Que delícia seu cantinho... Está tão lindo aqui. Seus olhos vivos reluzentes nessa foto, o sangue que não ameaça vir por sobre o branco dos lençóis... A luta por uma perda de virgindade que dura anos; talvez até uma vida.

    A música é linda!
    E quão nostálgica você está... Gostaria de saber o que lhe acometeu para tal força. Seria a simples imagem do seu filho?
    "Os filhos nos libertam da responsabilidade de alcançar a felicidade". Como esse pensamento é verdade! Vejo-o em meu filho também... E vejo que ainda sou feliz demais pra ser um pai. (...)

    Este texto me dá gosto ao paladar... não só por falar de bolachas, mas pela doçura com que colocou suas saudades. Tudo me pareceu tão forte. A lembrança não parece mais lembrança, mas um fato contido, ainda não vivido, mas presenciado. E a gente busca viver de novo na vaga imaginação do que se foi... Do que se foi...

    Espero que eu seja já uma lembrança desse seu futuro que ameaça chegar. Terei-me morrido quando tal? Não sei, nem importa. Que importa é a vida que faço nesse momento, que já são antecipadamente as lembranças de um momento vindouro.

    Pois tudo são lembranças, até o agora.

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